quarta-feira, 27 de junho de 2007

sexta-feira, 8 de junho de 2007

Pedro Farto in Diário de Noticias


Época balnear

Hoje há jantarada das valentes. Brindes, discursos e viagens ao mundo do desporto, da corrupção, da arbitragem e dos vários processos pendentes em tribunal. Hoje vai ser bom! Onze convocados, não há substituições e prometemos prolongamento, penalties e moeda ao ar. Vale tudo nesta peladinha gastronómica! Hoje vou estar com amigos.

Na vida vão e vêm, os verdadeiros ficam e é sempre uma alegria juntarmo-nos todos. Se é verdade que quase sempre sabemos por que merecemos um inimigo, não raramente nos perguntamos o porquê de merecer amigos assim tão bons.

E a amizade é de vital importância no dia-a-dia como no desporto e dentro do balneário. Cada época que começa é assim uma especie de 'época balnear': colegas novos, outros que transitam e outros que fazem parte da mobília há muito tempo.

Ando nisto dos balneários há mais de 20 anos. Já vi balneários de todos os tamanhos e feitios. Grandes, minúsculos, com água quente, morna, assim-assim, gelada, demasiado quente, sem água. De Norte a Sul, há sempre um balneário pronto a acolher a alegria da vitória ou a desolação da derrota. Risos, choros, sangue, suor e lágrimas. O balneário acolhe tudo aquilo que o público dos pavilhões e dos estádios não vê, tal como os amigos em enormes confissões longe de outros olhares.

Quando me falam de uma equipa com bom balneário recordo-me sempre do Vítor Baía. Depois da dispensa do Jorge Costa, com quem Baía repartiu durante anos a liderança desse cubículo com águas correntes, coube-lhe a ele agarrar no leme do barco e conduzir a equipa a bom Porto. Agora ele deixa o balneário, ou pelo menos deixa de tomar banho lá, e coloca-se a questão de quem ocupará cargo de tamanha responsabilidade. E a questão não é simples nem é democrática. Não vamos a votos nem há nenhum referendo. Essa pessoa naturalmente surge e impõe-se, é escolhida pelos seus actos que abonam quase sempre a equipa no seu todo. Sem ser a única explicação para o sucesso, a velha história da equipa com 'bom balneário' parece fazer muito sentido no caso desta equipa em particular.

Costumo dizer que ao fim de tantos anos de carreira (boa ou má, é uma carreira), o que levo disto são os amigos.

Gente de todo o lado, a fazer sair o que de melhor Portugal tem. Regionalismos postos de parte, somos um povo bondoso, acolhedor e divertido. Eu que, como sabem, gosto de rir, prezo muito o bom ambiente no seio da equipa. E acreditem: quanto mais nos divertimos mais sérios nos tornamos e melhores resultados temos.

De todas as épocas, esta tem sido particularmente agradável. E só este tremendo grupo que temos, a boa relação que cultivamos e a sinceridade que nos acompanha permitem fazer tanto por tão pouco. E no entanto lá vamos levando a honra e o brio para a frente, orgulhosamente remando contra a maré. Só a amizade explica isso. E é rigorosamente isso que vai ficar para sempre dentro das nossas memórias e dentro dos nossos corações. E por tudo isso, muito obrigado a todos.

Mas hoje o jogo é outro. Não há pontos em disputa mas há muitos assuntos para pôr em dia. A equipa é um caso sério de regularidade e a ementa é de 'Premier League'. Copos ao alto: 'Stayin' alive.' E enquanto assim for, com amigos verdadeiros à mesa ou dentro de campo, sentimos sempre a segurança e a certeza absoluta de que cada um individualmente pode sempre fazer um pouco mais. Ir um pouco mais longe, mais rápido, com mais precisão.

E todos a acreditar, faz de nós o todo que um grupo deve ser para ser exemplar.



Fonte: Pedro Farto in Diário de Noticias de 08/06/07